quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Em tempos de Copa, quem manda na Educação?

A pergunta título deste post surge quando, em um contexto concreto de trabalho, deparo-me com um calendário acadêmico no qual teremos uma "parada estratégica" para a Copa do Mundo de Futebol, marcada como um "recesso". Não, não são férias. É um recesso mesmo. Tudo bem que a universidade onde trabalho está em uma das cidades sedes da Copa, no Rio de Janeiro, e que receberemos turistas e a segurança dessas pessoas precisa ser garantida. O outro lado da questão - o mais importante ao meu ver - é o que significa realmente este período em que teremos um dos maiores eventos esportivos do mundo em nosso país para a população local. Não entrarei nem no mérito da realização da Copa aqui no Brasil porque considero que não há como esta decisão ser revista e tampouco acho que ela deixará de acontecer por mais manifestações públicas ou em redes sociais ocorram. Também não quero discutir o "legado" da Copa para o país e os habitantes das cidades sedes porque fugirá do meu tema inicial. 
Minha questão é mais concreta: o que significa, para a nossa Educação, termos uma Copa do Mundo? Tento responder a ela focalizando apenas um aspecto: o político. Ano passado, aqui mesmo no Rio de Janeiro, tivemos greve das redes municipal e estadual na qual os professores estiveram na luta por seus direitos (fosse em atos nas ruas ou dentro de suas próprias escolas) que durou meses. Os professores foram tratados com total desrespeito pelos políticos (não quero sequer mencionar outro segmento de trabalhadores que atacaram covardemente os professores porque acredito que esta questão também é política e ainda mais profunda) que não os receberam durante a maior parte deste tempo sequer para uma única reunião com os sindicatos. Estes mesmos políticos, amparados pela mídia, buscaram a sensibilização de pais e mães de alunos das escolas públicas, bem como da sociedade em geral, no sentido de mostrar que os maiores prejudicados com a greve eram os próprios alunos. Sinceramente, para mim, este tiro saiu pela culatra porque acompanhei por fotos e relatos em redes sociais o apoio que a comunidade escolar estava dando à classe dos professores.
Bom, mas por que eu voltei lá em setembro de 2013 para responder minha questão inicial. Neste ano, as escolas das redes terão o tal recesso devido à Copa do Mundo e ninguém (do Governo) vem à televisão chorar a perda de dias letivos?! Hoje fico com a sensação de que ninguém manda na Educação. Ou melhor: ninguém quer parecer mandar. Nosso Plano Nacional de Educação já virou uma falácia há anos. Do nosso antigo Ministro da Educação - que de educador nada tinha - e agora do atual nunca pudemos ouvir sequer uma declaração coerente e prudente com relação à educação pública brasileira. E os secretários regionais cada vez nos assustam mais com suas soluções meritocráticas e tecnocratas que em nada auxiliam na reorganização do ensino básico. 
A política educacional do Brasil está tão abandonada que esta falsa sensação de que ninguém manda é muito perigosa. Porque quando não se sabe bem de onde vêm as decisões perdemos o foco em uma possível reação. E, convenhamos, esta estratégia é brilhante! Porém (sempre há um porém), a classe dos professores já está calejada. E, por isso, acho que não devemos perder o foco (como, por exemplo, achar que se o Brasil perder a Copa tudo ficará "bem") e seguirmos em vigilância. No dia a dia, em cada uma de nossas salas de aula, na formação política de nossos alunos. Mesmo que nas aulas de ciências. E como não? Ou senão como haverá transformação de outra forma?